Mais que pular em frente àquela filmadora que ocupava em revesamento os ombros dos meus pais, eu e meu irmão crescemos competindo pela melhor imagem obtida manuseando aquela imensa Fujita preta. Fotografar era algo entre mania e paixão. Aquela câmera não ficava em desuso e entre família passava de mão em mão dando a cada acontecimento diversos focos.
Com o tempo, a relíquia adquirida nos primeiros anos de casamento dos meus pais não perdeu a graça, perdeu o posto! Diminuiu, tornou-se digital, invadiu nossos celulares e continuava sendo a companhia que registrava detalhes e detalhava registros. Fotografar sempre foi mais que sorrir em pose, eram os momentos espontâneos em que sorríamos felizes, era a simplicidade que faz da natureza uma obra de arte... era tudo que nos fazia aumentar a curiosidade na espera das fotos reveladas. A quantidade de retratos da realidade não economiza razões para perceber que a vida sempre nos trouxe motivos para sorrir.
São em flashs que vemos nossa vida eternizada, nos desenhos que vai traçando, desbotando alguns períodos e deixando outros em destaque. Tatuando no coração o que a visão não nos permite desconhecer: o primeiro banho e até os grandes saltos de uma cachoeira. A primeira amamentação e o churrasco em comemoração a aprovação no vestibular. Os primeiros passos e cada lugarzinho que fomos desbravar. O primeiro dia de aula e as resenhas da faculdade. Encontros e despedidas. Books e passarelas, danças e palcos. Aquele fotógrafo presente em cada acontecimento escolar e a teimosia amadora que adere a moda de fotos diante do espelho e as que são tiradas premeditando o "post" no site de relacionamento.
A saudade me transporta até em casa e voando pela sala posso avistar aquela estante onde a tv divide espaço mais do que com livros, DVDs e CDs, com aqueles notáveis álbuns floridos que por tantas tardes ocuparam colos de visitas ou insistíamos em rever aquelas fotografias que haviam sido selecionadas como melhores dentre as outras entulhadas na gaveta. As gavetas não suportam mais, certamente esse foi o motivo pelo qual passamos a imprimir somente as fotografias que mudariam as faces dos porta-retratos espalhados por toda casa e dos quadros de metal que enfeitam cada quarto...
Hoje estive estática com as fotografias scaneadas e editadas que arquivo. Novamente dou risada das roupas e dos outros, resmungo dos cabelos e da pressa com que o tempo passou. Sinto a presença dos amores que estão longe, das ocasiões que não voltam, das coisas que não tenho mais, dos lugares por onde passei. Sinto tudo muito meu, imaginações, criações... E tudo que o tempo poderia ter deixado incolor, insosso e indolor me rodeia de memórias e vida, me trazem nítidas as vozes e cheiros que se foram e constituem o que viria depois. Em cores, o filme na tela do computador leva minha vida onde eu for.
É tudo muito mágico, essa vida em imagens, não? é o filme da nossa vida. Gosto do jeito como escreveu tudo isso.
ResponderExcluirRealmente professora, amo a forma como a fotografia consegue doar até à expressões trágicas um quê mágico do perpétuo, das lembranças. Obrigada...
ResponderExcluirLindo texto, Lay! Bem poético! :) Adorei!
ResponderExcluirBrigaada Céu. S2
ResponderExcluirMuito profundo, como diria a Aline sampaio, simplesmente profundo!
ResponderExcluirMais do que contar sua história com a fotografia você nos fez viajar num mundo encantado e até voar junto com você pela sala da sua casa.
Parabéns!
Brigada Lielza. Fotografia tem esse dom neh?! Nos leva... um misto de imaginação, saudosismo e lembranças. A gente acaba construindo e descobrindo nossa vida e tudo que nos rodeia...
ResponderExcluirSem dúvidas, a fotografia eterniza! Seu texto deixa claro que foto faz parte de sua vida!
ResponderExcluirCada suspiro um flash, amém! :D
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